O pastor e deputado federal
Marco
Feliciano (PSC-SP) publicou artigo em seu blog criticando a falta de
preparo e de formadores de opinião no meio evangélico.
Em seu texto, Feliciano falou da ausência de um representante evangélico na
audiência pública que ele promoveu para a discussão do projeto da Ortotanásia,
popularmente conhecida como “boa morte” ou “morte digna”, que regulamentará a
prática da Eutanásia no Brasil, se aprovado.
O deputado relatou que sua assessoria convidou representantes católicos,
especialistas na área da medicina e juristas, mas teve insucesso para localizar
um representante evangélico, pois nenhum dos contatados se declarou apto em
relação ao assunto.
O pastor citou como exemplo em sua ilustração o testemunho de um conhecido
seu, que afirma ter ouvido quando era jovem: “Um amigo testemunhou no púlpito
que havia ganhado uma bolsa de estudos do seu patrão, mas que, por amor a obra,
e crer na iminente volta de Jesus, não aceitara, afinal, disse ele: ‘Pra
que estudar tanto se Jesus logo viria arrebatá-lo?’”.
Feliciano complementou citando o exemplo de uma de suas empresas, que
passava por dificuldades e ao contratar uma consultoria, descobriu que estava à
beira da falência: “Após efetuarem uma minuciosa triagem o resultado me fez
perder o chão. “Sua empresa logo irá falir!” me disse o
consultor, e sua explicação me convenceu. Todos os funcionários desta empresa
eram evangélicos, e na triagem todos responderam de igual forma, que em suma
foi mais ou menos assim: Se estavam ali, foi porque Deus os colocou, e se
saíssem dali foi porque Deus os tirou, então, por que iriam “perder”
tempo em estudar, aprimorar, fazer cursos, etc?”.
A crítica à falta de preparo e de posicionamento por parte dos evangélicos
em relação a assuntos de importância nacional continuou, com a menção aos
artistas seculares, que se colocam como ativistas contra o desmatamento,
construção de usinas, sustentabilidade, entre outros, e a ausência de
mobilizações desse tipo no meio gospel.
-E nossos “artistas” evangélicos e nossos cantores góspeis, que querem o
“status” de celebridade? Não irão se posicionar? Não falarão nada? Ficarão
calados? Mas eu os entendo, como irão se posicionar, falar, se não sabem NADA
sobre esses assuntos? Se são ignorantes a cerca do que se passa em seu País, em
sua Pátria? E é bem possível que após lerem este artigo irão se
enfurecer, e dizer, A IGREJA TEM QUE SE PREOCUPA COM CÉU, COM O MUNDO
ESPIRITUAL… e por causa destas respostas e outras de igual teor que virão,
nossos filhos, nossos membros, nossa comunidade evangélica sempre será
envergonhada, não terá credibilidade, até que, alguém, comece a estudar, se
preparar, e militar nestas causas – alertou.
O pastor Marco Feliciano ainda fez um pedido às lideranças evangélicas
nacionais, para que se empenhem na criação de órgãos que incentivem o debate
desses assuntos, para que o povo evangélico se faça representar.
Confira abaixo a íntegra do artigo “Chega de futilidade, cadê nossos
pensadores?”, do pastor Marco Feliciano:
Quando jovem assisti uma cena surreal na igreja onde congregava, ouvi
um “tristimunho”. Um amigo testemunhou no púlpito que havia ganhado
uma bolsa de estudos do seu patrão, mas que, por amor a obra, e crer na
iminente volta de Jesus, não aceitara, afinal, disse ele: Pra que estudar
tanto se Jesus logo viria arrebatá-lo?
A pouco tempo, em uma das empresas que fundei, sentindo a dificuldade para
seu crescimento, contratei uma empresa especializada em RH (recursos humanos),
e após efetuarem uma minuciosa triagem o resultado me fez perder o
chão. “Sua empresa logo irá falir!” me disse o consultor, e sua
explicação me convenceu. Todos os funcionários desta empresa eram evangélicos,
e na triagem todos responderam de igual forma, que em suma foi mais ou menos
assim: Se estavam ali, foi porque Deus os colocou, e se saíssem dali foi
porque Deus os tirou, então, por que iriam “perder” tempo em estudar,
aprimorar, fazer cursos, etc?
Em ambas as experiências acima temos um reflexo de como pensam os
evangélicos, é claro, que toda regra tem exceção, graças a Deus por isso!
Semana passada provoquei uma audiência pública na Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara dos Deputados sobre um assunto polêmico, a ORTOTANÁSIA que
significa “boa morte”. O projeto em si tentava descriminalizar a EUTANÁSIA. Fiz
a audiência para não cometer equívocos quanto ao meu voto de relator. Busquei
pessoas especializadas no assunto para me darem amparo jurídico, médico e
espiritual, afinal o assunto gera em torno da morte.
A CNBB Conselho Nacional de Bispos do Brasil, órgão da Igreja Católica,
enviou representante jurídico, bem como convidei um grande médico, também de
formação católica que muito contribuiu para o assunto e ambos deram um “show”
de explanação sobre vida e morte, ciência e fé, acima de tudo com base na Carta
Magna Brasileira, a nossa Constituição Federal. Ainda falando sobre a Igreja Católica,
graças a sua militância, impediu que o texto aprovado na Rio+20 abrisse
brecha para a legalização do aborto.
Voltando a falar sobre a audiência, que só não foi melhor por que ficou uma
lacuna, uma cadeira vazia na comissão. Tal cadeira era destinada há um
representante evangélico. Não foi por falta de procurar. Meu gabinete ligou
para muitos lugares, mas o assunto era desconhecido para a maioria.
Após a audiência pensei nessa matéria que aqui escrevo, para, quem sabe, se
tiver êxito, despertar alguns.
Os grandes e polêmicos temas desta nação, temas que esbarram nos nossos bons
costumes, que ferem nossa fé, assustando nossas famílias, precisam ser
discutidos, e para isso precisamos de militância. Precisamos nesse quesito
aprender com o Catolicismo, que, se esmerou com o passar dos anos e hoje, tem
voz ativa sobre assuntos polêmicos e suas opiniões são respeitadas, afinal
prepara seus representantes são preparados intelectualmente e espiritualmente.
Nós evangélicos somos vistos como fundamentalistas fanáticos, e damos
motivos para isso. Quando discutimos o assunto da homossexualidade por exemplo,
a grande maioria dos nossos lideres só afirmam que tal ato é
PECAMINOSO, mas quando inquiridos dentro da psicologia, genética,
antropologia, não tem argumentação intelectual pois não se preparam, e de
maneira simplista expõe nossa fé ao ridículo.
Teremos assuntos pela frente como O USO DAS CÉLULAS TRONCO, SUSTENTABILIDADE
DO PLANETA, a GRANDE EXPLOSÃO DEMOGRAFICA MUNDIAL que põe em risco os recursos
naturais do planeta, entre outros, e esses assuntos já estão na pauta do dia, e
como a Igreja Evangélica Brasileira que já é 33% da população brasileira, vai
se posicionar? Não há como fugir destes assuntos. Seremos omissos? Ignorantes?
O que diremos aos nossos filhos, aos nossos membros? Continuaremos a ver nossos
referenciais fazendo citaçõezinhas fúteis em seus facebook, twitters, blogs,
programas de rádio e TV?
Ora, os artistas seculares se posicionam, vestem camisas com inscrições
apoiando ou protestando contra assuntos tipo a transposição do Rio São
Francisco, Usina Belo Monte, os cantores fazem barulho sobre esses assuntos, na
Rio+20, Daniela Mercury, cantora de Axé, provocou seus fãs a “infernizarem a
vida dos lideres políticos” sobre o assunto do desmatamento. E nossos
“artistas” evangélicos e nossos cantores góspeis, que querem o “status” de
celebridade? Não irão se posicionar? Não falarão nada? Ficarão calados? Mas eu
os entendo, como irão se posicionar, falar, se não sabem NADA sobre esses
assuntos? Se são ignorantes a cerca do que se passa em seu País, em sua
Pátria? E é bem possível que após lerem este artigo irão se enfurecer, e
dizer, A IGREJA TEM QUE SE PREOCUPA COM CÉU, COM O MUNDO ESPIRITUAL… e por
causa destas respostas e outras de igual teor que virão, nossos filhos, nossos
membros, nossa comunidade evangélica sempre será envergonhada, não terá
credibilidade, até que, alguém, comece a estudar, se preparar, e militar nestas
causas.
Faço um apelo aos grandes líderes evangélicos da nossa nação, que, estimulem
seus liderados a estudarem, que preparem um grupo de pensadores, que criem em
suas convenções, simpósios e seminários para discutirem o Brasil de amanhã, e
qual será o posicionamento e a atuação da igreja evangélica brasileira sobre
exercer sua cidadania.
Mais uma vez reforço, não podemos nos calar. Não podemos continuar sendo o
“Zé povinho” como nos tratam. Não podemos ser tratados apenas como currais
eleitorais em tempo de campanha. Precisamos nos posicionar com argumentos
técnicos, intelectuais, científicos e teológicos, precisamos marcar território!
Não podemos esquecer, que Martin Luther King era PASTOR e militava nas
causas de minorias, e tornou-se mártir e um referencial para nações. Lideres
espirituais de outras religiões atuaram de igual forma como Mahatma Gandhi, Dom
Paulo Evaristo Arns entre outros e marcaram posição, fizeram história,
influenciaram sua geração.
O apóstolo Paulo em seu tempo discutia com os epicureus e os estóicos em
alto nível. Preparado, conhecedor das leis, exigiu e foi atendido pelos mais
poderosos homens do seu tempo.
Existem alguns microblogs evangélicos que são fantásticos, pessoas cultas,
intelectuais, que poderiam usar suas ferramentas pra estimularem uma geração
inteira, que poderiam por em pauta assuntos de importância nacional, se
quisessem provocariam uma revolução intelectual no meio evangélico, e eu
estendo esse apelo a eles: Por favor, despertem a inteligência dos nossos,
deixemos de lado as intrigas, as picuinhas entre nós mesmos, sejamos fortes!
Convoco também os grandes conselhos de Pastores para que criem uma
secretaria que fiquem atentos a estes assuntos e de maneira democrática,
participem destes assuntos. Opinem, escrevam, marquem audiências com
autoridades, vocês tem esse poder em suas mãos.
Não estou dizendo para deixarem de lado suas vidas eclesiásticas, assim como
na Igreja de Jerusalém alguns cuidavam dos órfãos e das viúvas enquanto os
demais, oravam e se dedicavam a palavra, levantemos alguns para cuidar destes
assuntos.
É tempo de despertar.
Em Cristo,
Pr. Marco Feliciano
Deputado Federal PSC-SP
Brasilia, junho de 2012
Fonte:
Gospel+