Os
psicanalistas Antônio Alves Xavier e Emir Tomazelli cuidam de
alcoólatra como se fosse fanático religioso, porque, segundo eles, se
trata de pessoa que se acha poderosa e se entrega ao seu ídolo, a
bebida, para se sentir onipotente.
“Ele [o alcoólatra] transforma a bebida em
substância divina”, disse Xavier em entrevista à Folha de S. Paulo. “Ao
beber o 'deus álcool', comunga com essa substância e acredita que vira
deus, não tem que enfrentar as limitações e frustrações de ser humano.”
Xavier e Tomazelli abordam essa questão no livro
"Idealcoolismo" (Casa do Psicólogo, 282 págs., R$ 47), que resume a
experiência dos dois no tratamento de mais de 5.000 pessoas ao longo de
dez anos.
Para Xavier, o alcoolismo é como se fosse uma
religião degradada, religião de fanáticos. “Não há uma distância entre o
crente e seu deus”, disse. “Quando alguém toma a si próprio ou a alguma
coisa existente no mundo como deus, cria uma religião degradada.”
Fazendo um paralelo com o fanático religioso,
Tomazelli disse que o alcoólatra “deixa de ser humano”. “Ele perde a sua
parte ética porque fica submerso em sua individualidade, sem considerar
o outro.”
Os psicanalistas afirmaram que tratam o alcoólatra
com “choque de humanidade”, fazendo que entenda que o ser humano é
frágil e limitado.
É um trabalho difícil, disse Tomazelli, porque o
alcoólatra tem de aceitar pequenas doses diárias da realidade, em
substituição à euforia proporcionada pela bebida ou outra droga.
No caso do fanático religioso, a droga é Deus, mas os psicanalistas não tratam desse tipo de doente.
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