Por Daniele Silveira - Adital.org.br
Fome atinge uma em
cada sete pessoas e desnutrição mata 20 mil crianças com menos de 5 anos
por dia. Agricultura camponesa, que no Brasil produz 70% dos alimentos,
só consegue acessar 14% dos créditos. De acordo com a FAO, 1,3 bilhão
de toneladas de comida são jogadas fora por ano. A fome atinge uma em
cada sete pessoas e, em consequência da desnutrição, mais de 20 mil
crianças com menos de 5 anos morrem todos os dias.
A Organização
das Nações Unidas (ONU) destaca o desperdício de alimentos como um
enorme consumidor de recursos naturais e colaborador dos impactos
negativos no meio ambiente.
Para debater os danos causados ao
meio ambiente e pensar formas de preservação, a Radioagência NP
entrevistou o coordenador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e
Pela Vida, Cléber Folgado. Ele afirma que é preciso repensar o próprio
modelo de produção agrícola adotado a nível mundial, e ressalta que um
dos “grandes vilões em relação à situação que se encontra o meio
ambiente é o agronegócio”.
O desperdício de alimentos é o ponto central na questão da preservação do meio ambiente, como sugere a FAO?
A
gente tem que discutir o que é alimento. Por exemplo, um dos grandes
vilões em relação à situação em que se encontra o meio ambiente é o
agronegócio, que é um modelo voltado à produção de monocultivo, em larga
escala, para exportação, com utilização de maquinário pesado, com o uso
de agrotóxicos, fertilizantes químicos, que também degradam a terra e o
meio ambiente no seu conjunto. Então, quando a gente discute essa
questão da alimentação automaticamente tem uma ideia de jogar e fazer
essa relação com a produção do agronegócio, o que é um equívoco. Por
isso, que eu coloco que é importante a gente discutir o que é alimento.
Hoje o agronegócio brasileiro, e não é diferente nas outras partes do
mundo, esse modelo, esse pacote, é voltado para a produção de
commodities, produção de soja em larga escala, produção de cana para
produção de etanol para garantir tanque [dos automóveis] cheio.
A agroecologia é uma alternativa para produção de alimentos e defesa do meio ambiente?
Quando
a gente fala de alimentos não estamos falando dessa produção que o
agronegócio faz. A gente está falando dessa produção que é feita hoje
principalmente pela agricultura camponesa, que só no caso do Brasil
produz 70% dos alimentos, só consegue acessar 14% dos créditos, está em
24% das terras agricultáveis do país. Com uma quantidade de recursos e
impactos muito menor consegue produzir uma quantidade alimentos de fato
muito maior do que a produção feita pelo agronegócio. É importante a
gente perceber que a gente precisa de fato discutir o modelo de
agricultura que é adotado hoje a nível mundial, o modelo capitalista de
produzir porque esse é o modelo que está fadado ao fracasso. Quando eu
falo ao fracasso não é o seu fracasso do ponto de vista econômico, mas é
o fracasso da humanidade do ponto de vista de destruição desses
recursos que não são renováveis. Hoje a gente vê em várias regiões do
mundo um processo de desertificação do solo, da terra, que estão
deixando de ser produtivos independente da quantidade de insumos que ou
fertilizantes que vão ser postos nele. Então, a gente precisa rediscutir
o paradigma de agricultura, que para nós da Campanha, do MPA, da Via
Campesina está baseado na produção agroecológica.
E qual a importância da luta contra o uso dos agrotóxicos como própria forma de defesa e preservação do meio ambiente?
Ela
é central. Primeiro porque os agrotóxicos – é importante a gente olhar o
contexto histórico – já surgem como um produto de guerra. Os
agrotóxicos são na verdade um complexo industrial bélico e estoque de
produção bélica que havia na época com o fim da 2ª Guerra Mundial, que
foram adaptados e transformados em insumos para a agricultura. De modo
que esse “pacotão” que foi chamado de Revolução Verde já no seu início
começa afetando o meio ambiente porque na sua essência ele já é biocida,
ou seja, ele é produzido para morte e não para promover a vida. E hoje o
Brasil, desde 2008, na verdade, é o maior consumidor de agrotóxico do
mundo. São cerca de 5,2 litros de agrotóxico por pessoa no Brasil.
Então,
os agrotóxicos na sua essência são nefastos ao meio ambiente e às
pessoas também, pois causam doenças crônicas, agudas. E se a gente olha
para o meio ambiente como esse grande conjunto de plantas, animais, que
devem conviver de forma harmônica com o ser humano esse processo é
possível. Agora jamais será possível com a utilização de agrotóxicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário