Engana-se
quem pensa que os inimigos do Natal são apenas os cristofóbicos da
Nigéria, do Sudão, do Egito, do Iraque, do Paquistão e do Irã ou os
líderes autoritários de países de maioria muçulmana — como Islom
Karimov, presidente do Uzbequistão, que, no ano passado, proibiu a
celebração do Natal de Cristo em nome do Estado laico.
Com a
aproximação do dia 25 de dezembro, vemos em pregações e mensagens pela
Internet líderes, pregadores e crentes em geral atacando a aludida
celebração, como se ela fosse pagã e idolátrica.
Mal começa dezembro, e alguns cristãos inimigos do Natal — que ironia! —
já estão espalhando nas redes sociais textos e vídeos pelos quais
satanizam o Natal, como se este trouxesse muitos males à cristandade.
Neste artigo (talvez o último sobre o assunto, neste ano) refutarei
pacientemente, item por item, o texto preferido dos evangélicos que se
opõem ao Natal: “10 motivos para não celebrar o Natal”.
1. “A Bíblia não manda celebrar o nascimento de Cristo”.
Fiquei
pensando: “O que os inimigos do Natal queriam, que Deus ordenasse:
‘Celebrai com júbilo o Natal de Cristo, todos os moradores da terra’?” Ora,
nem tudo, nas Escrituras, é tratado por meio de mandamentos. A Bíblia
é, também, um Livro de princípios, doutrinas, tipos, símbolos,
parábolas, metáforas, profecias, provérbios, exemplos, etc. E um grande
exemplo foi dado pelos anjos de Deus, que celebraram o Natal de Cristo,
dizendo: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com
os homens!” (Lc 2.14).
Se
há cristãos fanáticos, a ponto de se apegarem à questiúncula de que não
existe um mandamento específico para se celebrar o Natal, que parem
também de comemorar o Dia do Pastor, o Dia da Bíblia, o Dia da Escola
Dominical, o Dia de Missões, a Festa das Nações, o Ano de Gideão, o Ano
de Davi, o Ano da Colheita, o Feriado da Visão, o Ano Apostólico, a
Semana Profética, etc. Ah, e também parem de receber presentes de
aniversário, pois não há nenhum mandamento bíblico para celebrarmos o
nosso aniversário!
2. “Jesus não nasceu em 25 de dezembro.
Essa data foi designada por Roma numa aliança pagã no século IV. A
primeira intenção era cristianizar o paganismo e paganizar o
cristianismo; de acordo com o calendário judaico, Jesus nasceu em
setembro ou outubro”.
Façamos uma conjectura: digamos que,
um dia, ocorra um grande avivamento no Brasil, e todos os poderes se
convertam ao Evangelho. Conversões em massa acontecem. O Brasil se torna
um país 100% evangélico! O governo, então, considerando que 12 de
outubro é um feriado religioso, estabelece que essa data será o Dia de
Louvor a Jesus Cristo! O leitor se revoltaria contra essa data, sob a
alegação de que ela fora outrora consagrada à Senhora Aparecida?
Estudos
minuciosos revelam que Jesus não nasceu em 25 de dezembro. Mas essa
data é histórica e foi escolhida pela Igreja Católica Romana (casada com
o Estado, à época), a fim de induzir os pagãos — que adoravam o sol — a
celebrarem o nascimento de Cristo. Em outras palavras, a intenção do
imperador romano foi boa! Considerando que já havia uma grande
comemoração pagã no mesmo dia, ele induziu a todos a se lembrarem do dia
natalício de Cristo na data que eles estavam acostumados a adorar um
deus falso!
3. “A igreja do Senhor está vivendo a época
profética da festa dos tabernáculos, que significa a preparação do
caminho do Senhor; e, se você prepara o caminho para Ele nascer, não o
prepara para Ele voltar”.
Será que eu entendi de modo
correto? Pessoas se arvoram contra o Natal porque não existe um
mandamento específico sobre essa celebração, mas, ao mesmo tempo,
apegam-se a uma simbologia “forçada”, com base na festa dos
tabernáculos, para se oporem ao Natal de Cristo? Ora, uma das doutrinas
fundamentais da Palavra de Deus é a encarnação do Verbo, isto é, o seu
glorioso nascimento (Jo 1.14; 1 Tm 3.16). Aliás, a obra da redenção está
em um tripé: nascimento do Senhor, sua morte e sua ressurreição (Gl
4.4; 1 Co 15.1-4). Ignorar o Natal de Cristo é deixar de valorizar uma parte de sua obra salvífica.
4.
“O natal é uma festa que centraliza a visão no palpável e esquece do
que é espiritual. Para Jesus o mais importante é o Reino de Deus, que
não é comida nem bebida, mas justiça e paz no espírito”.
O
Natal de Cristo, em si, não é uma festa de comida e bebida. São as
pessoas do mundo sem Deus que só priorizam isso, em detrimento de real
sentido da celebração em apreço. Quanto ao cristão que se preza, deve
ser diferente das pessoas do mundo, a despeito de estar no mundo. Ele
não se conforma com o modus vivendi das pessoas do mundo sem Deus
(Rm 12.1,2), nem abraça o modo cada vez mais sincrético e consumista de
se celebrar o Natal (cf. 1 Co 10.23-32).
Entretanto, a despeito
de o Reino de Cristo ser preponderantemente espiritual, somos pessoas
normais, que precisam comer, beber, dormir, trabalhar, participar de
eventos festivos, etc. Segue-se que se alegrar com a família, no fim de
dezembro, com um grande almoço ou jantar, glorificando a Cristo por seu
Natal e sua obra vicária, como um todo, é lícito e conveniente ao
cristão equilibrado.
5. “O natal se tornou um culto comercial
que visa render muito dinheiro. Tirar dos pobres e engordar os ricos. É
uma festa de ilusão em que muitos se desesperam porque não podem comprar
um presentinho para os filhos”.
A afirmação acima é
reducionista, visto que não pondera que o Natal de Cristo subsiste sem o
aludido “culto comercial”. A Páscoa, por exemplo, não deixa de ser
legítima em razão de ser aproveitada pelo mundo capitalista para
explorar o consumismo. Se há uma celebração de Natal que prioriza o
comércio, existe, também, uma celebração que prioriza Cristo! Segue-se
que o motivo alegado para não celebrar o Natal de Cristo é, além de
reducionista, generalizante e preconceituoso.
6. “O natal está
baseado em culto a falsos deuses nascidos na Babilônia. Então, se
recebemos o natal pela Igreja Católica Romana, e esta, por sua vez, a
recebeu do paganismo, de onde a receberam os pagãos? Qual a origem
verdadeira? O natal é a principal tradição do sistema corrupto,
denunciado inteiramente nas profecias e instruções bíblicas sobre o nome
de Babilônia. Seu início e origem surgiram na antiga Babilônia de
Ninrode. Na verdade, suas raízes datam de épocas imediatamente
posteriores ao dilúvio”.
Para início de conversa, o argumento
acima despreza o fato de o Natal de Cristo preceder e transcender o
paganismo que se infiltrou na Igreja Católica Romana. O nascimento do
Senhor Jesus foi celebrado até pelos anjos, que exclamaram: “Glória a
Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!” (Lc
2.14). E mais: os magos do Oriente adoraram o Menino, ofertando-lhe
dádivas, em uma casa — e não na manjedoura —, cerca de dois anos após o
seu nascimento, conforme análise cuidadosa de Mateus 2. Ou seja, o Natal
de Cristo não é invenção dos pagãos, e sim uma celebração genuinamente
cristã.
Segue-se que nos lembrarmos do nascimento de Cristo,
descrito na Bíblia, e glorificarmos a Deus por nos ter dado o seu Filho
Unigênito é lícito e conveniente. Isso nada tem a ver com Roma,
Babilônia, etc. Ademais, o fato de o Natal de Cristo ser celebrado
também pela Igreja Católica Romana não o torna idolátrico ou pagão. Caso
contrário, a missa, com a sua hóstia, tornaria a Ceia do Senhor
igualmente idolátrica, não é mesmo?
7. “O natal não glorifica a
Jesus, pois quem o inventou foi a Igreja Católica Romana, que celebra o
natal diante dos ídolos (estátuas). Jesus é contra a idolatria e não
recebe adoração dividida”.
Esse argumento também é
reducionista, posto que ignora o fato de a idolatria ser uma condição do
coração. Ela não é um pecado praticado de modo subjetivo. Celebrar o
Natal de Cristo não implica idolatria. Esta, à luz do Novo Testamento, é
uma ação objetiva, e não subjetiva. A idolatria é praticada de modo
consciente. Nesse caso, dizer que o crente que celebra o Natal é
idólatra não reflete julgamento segundo a reta justiça (Jo 7.24).
8. “Os adereços (enfeites) de natal são verdadeiros altares de deuses da mitologia antiga (que são demônios)”.
Muita
coisa que há no mundo tem ligação com o paganismo e a idolatria:
comidas, festas, nomes de cidades, costumes, etc. O cristão não precisa
ser paranoico quanto a isso. A ele basta ser fiel ao seu Deus, não
tomando parte ativa e conscientemente do culto aos deuses. Lembro o
leitor, mais uma vez, de que a idolatria é praticada de modo objetivo, e
não subjetivo. Opor-se ao Natal por causa dos enfeites cuja origem está
ligada ao paganismo e praticar outras coisas de origem pagã é o mesmo
que coar mosquitos engolir camelos (Mt 23).
O cristianismo
verdadeiro não é fanatizante, como as religiões e seitas pseudocristãs e
extremistas, que proíbem doação de sangue, ingestão de determinados
tipos de alimento, participação em festas, casamento no templo, trabalho
em determinado dia da semana, etc. Somos livres em Cristo (1 Co
10.23-32). Reprovar e até proibir a celebração do Natal de Cristo por
causa de Papai Noel, duendes, gnomos, decorações natalinas e outras
coisas mundanas é característica de um pseudocristianismo desequilibrado
(cf. Ec 7.16,17).
Se quisermos abraçar o legalismo, não podemos
falhar em nenhum ponto da lei. Então, pergunto: O crente que se opõe ao
Natal de Cristo por causa dos elementos pagãos e consumistas,
mencionados neste artigo, também deixa de consumir bolo de aniversário,
em razão de sua origem pagã? O que ele pensa sobre o vestido de noiva, o
terno e a gravata, as construções que ele visita e as ruas da cidade
por onde ele anda? Quase nada, neste mundo, tem origem cristã...
9.
“O natal de Jesus não tem mais nenhum sentido profético, pois todas as
profecias que apontavam para sua primeira vinda à terra já se cumpriram.
Agora nossa atenção de se voltar para sua Segunda vinda”.
Nesse
caso, a Bíblia é apenas um tratado de escatologia, que se ocupa
exclusivamente de assuntos relativos ao futuro? Ora, as Escrituras
apresentam muitas doutrinas escatológicas, porém elas também contêm
teologia, cristologia, pneumatologia, antropologia, hamartiologia,
soteriologia, eclesiologia e angelologia. Sabemos que o Natal de Cristo
está ligado diretamente à cristologia e à soteriologia. Entretanto, como
todas as doutrinas bíblicas são intercambiáveis, em Apocalipse 12 há
uma menção ao Menino Jesus! Será que o inimigos do Natal sabem disso?
10.
“A festa de natal traz em seu bojo um clima de angústia e tristeza, o
que muitos dizem ser saudades de Jesus, mas na verdade é um espírito de
opressão que está camuflado, escondido atrás da tradição romana que se
infiltrou na igreja evangélica, e que precisamos expulsar em nome de
Jesus”.
Desde a minha infância aprendi a celebrar o Natal de
Cristo. Lembro-me com muita alegria das peças, poesias e cantatas
natalinas, além das maravilhosas mensagens de Natal, ministradas por
homens de Deus. A lembrança da encarnação do Senhor propicia alegria na
alma, e não tristeza! Prova disso é que vários hinos da Harpa Cristã,
hinário oficial das Assembleias de Deus, nos estimulam a celebrar o
Natal de Cristo. Vejamos especialmente os hinos 21, 120, 366, 481 e 489.
Apresento,
pois, algumas sugestões (ou conselhos) aos cristãos inimigos do Natal
de Cristo. Não se deixem influenciar pelo espírito do Anticristo (1 Jo
4.3). Observem que o Diabo deseja, a todo custo, fazer com que o nome de
Jesus desapareça da face da terra. E uma de suas estratégias é
apresentar “outro evangelho”, fanatizante, farisaico, legalista, que
procura desviar os salvos da verdade, carregando-os de ordenanças, como:
“não toques, não proves, não manuseies” (Cl 2.20-22). Em vez de
apresentarem inúmeras razões para não celebrarmos o Natal de Cristo,
falem da gloriosa encarnação do Verbo (1 Tm 3.16; Jo 1.14; Gl 4.4,5), da
sua morte vicária (2 Co 5.17-21) e da sua maravilhosa ressurreição (1
Co 15.17-20)!
Celebremos sem medo o Natal de Cristo! Happy Christmas!
Ciro Sanches Zibordi
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