Nesta terça-feira (14), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou
uma resolução obrigando todos os cartórios do país a celebrar o
casamento civil entre homossexuais e a converter a união estável
homoafetiva em casamento.
De acordo com decisão do CNJ, proposta pelo presidente do Conselho e
também presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa,
“é vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação,
celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em
casamento entre pessoas de mesmo sexo”.
O texto da resolução determina ainda que, caso algum cartório se
recuse a concretizar o casamento civil, os envolvidos deverão informar o
juiz corregedor do Tribunal de Justiça local do fato.
- A recusa implicará imediata comunicação ao respectivo juiz corregedor para providências cabíveis. – diz o texto.
A decisão dividiu opiniões. De um lado, os defensores do chamado
casamento civil igualitário comemoraram a decisão, enquanto os
contrários a resolução defenderam que tal decisão não é de
responsabilidade do CNJ, e sim do Congresso Nacional, que também tem o
assunto em sua pauta de discussões.
Em seu site, Jean Wyllys comemorou a decisão e chegou a comparar a
resolução com avanços sociais como o direito de voto à mulher e o fim da
escravidão.
- Estou muito feliz! O Brasil acaba de entrar na lista, cada vez
maior, dos países civilizados e democráticos que reconhecem que a
população LGBT têm os mesmos direitos civis que qualquer outro cidadão
ou cidadã. Da mesma maneira que um dia houve um país que legalizou o
voto feminino, depois vieram outros e finalmente a questão resultava
óbvia; assim como um dia houve um país que acabou com a escravidão,
depois vieram outros e finalmente a questão resultava óbvia; e assim
como tantos outros avanços históricos chegaram em alguns países antes
que nos outros, hoje o mundo caminha no sentido de reconhecer a
cidadania plena à população LGBT – declarou o deputado e ativista gay
Jean Wyllys sobre a decisão.
- A luta pelos direitos civis dos homossexuais é filha da luta pelos
direitos civis dos negros e das mulheres. Nós estamos continuando um
caminho que esses movimentos, o feminismo e o movimento negro, iniciaram
há muitos anos – completou Wyllys, ao ressaltar que a decisão foi
proposta pelo primeiro presidente negro do Supremo Tribunal Federal.
O pastor Silas Malafaia criticou a decisão do Conselho. Segundo o pastor, a competência de tal decisão é do Congresso.
- Não é competência do CNJ decidir sobre isso. O casamento de
homossexuais é uma mudança de paradigma. A sociedade tem que decidir
isso por meio de um plebiscito ou então por meio do Congresso Nacional.
Não é uma canetada do CNJ que vai resolver a questão – afirmou Malafaia.
- Põe o plebiscito na rua para ver o que a sociedade quer. Os movimentos gays iriam perder com certeza – completou o pastor.
A decisão foi também questionada pelo subprocurador-geral da
República, Francisco Sanseverino. Único voto contrário do CNJ, a
conselheira Maria Cristina Peduzzi fez coro com Sanseverino, afirmando
que tal decisão não cabe ao conselho.
- Não tenho dúvidas de que a união homoafetiva foi reconhecida pelo
Supremo Tribunal Federal e ali se afirmou a constitucionalidade dessas
uniões e assegurados os efeitos civis produzidos pelas respectivas
uniões. [...] Penso que isso é questão que estaria afeta ao Congresso
Nacional – declarou Peduzzi.
O deputado João Campos (PSDB-GO), coordenador da Frente Parlamentar
Evangélica, também se manifestou contra a resolução, classificando como
“absurda” a decisão do Conselho. De acordo com o Estadão, Campos tentará
reunir a bancada evangélica ainda nessa semana para discutir as medidas
que adotarão como tentativa de reverter a decisão. Entre as
possibilidades, está um recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou um
projeto de decreto legislativo para se tentar suspender a decisão via
Congresso.
- A decisão do CNJ é um total absurdo. Não bastasse o Supremo ter se
habituado em legislar, agora temos o CNJ. O Supremo legislou dentro de
um ativismo que causa insegurança jurídica ao reconhecer a união civil
(entre homossexuais) e agora o CNJ está claramente exorbitando seu papel
– afirmou Campos, que disse ainda que decisões como esta do CNJ
reforçam na Câmara o desejo de apreciar duas propostas de emendas à
Constituição, aprovadas pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ),
que permitem ao Legislativo rever decisões do Judiciário.
Após saber da atitude de João Campos, Jean Wyllys classificou a
Frente Parlamentar Evangélica como “obtusa” e reclamou dizendo que “essa
gente não dá trégua”. Em sua crítica à FPE, Wyllys liga João Campos ao
pastor Marcos Pereira, que foi preso na última semana acusado de
estupro.
- Já há deputado evangélico fundamentalista recolhendo assinatura de
proposição contrária à decisão do CNJ… Essa gente não dá trégua! –
comentou Wyllys pelo Twitter.
- Um escroque correligionário do tal deputado aparece no noticiário
acusado de seis estupros e um homicídio e ele se cala providencialmente.
– completa o parlamentar, que ainda questiona: – Agora me digam se um
tipo desses tem alguma coerência ou moral?
Por Dan Martins, para o Gospel+
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