A pastora Lanna Holder, fundadora da igreja inclusiva Comunidade
Cidade de Refúgio, e sua companheira, a cantora Rosania Rocha,
concederam uma entrevista falando sobre seu histórico de polêmicas no
meio evangélico.
Lanna, que se tornou um caso peculiar por ser, ao mesmo tempo,
ex-lésbica e ex-hétero, afirmou que a conversão ao Evangelho a livrou do
vício, mas não de sua orientação homossexual: “Fiz tudo o que a igreja
mandou fazer para deixar de ser lésbica, não deu certo”, disse ao site Vírgula.
“Eu tinha 21 anos quando me converti à religião por achar que iria
para o inferno por causa de minha orientação sexual. Eu usava drogas,
era alcoólatra e quando me converti essa parte da minha vida deixou de
existir. A religião funcionou como um processo de restauração na minha
vida, mas a minha orientação sexual nunca foi alterada. Eu nunca
vivenciei nenhum processo de cura, mesmo assim segui numa busca
constante para deixar de ser lésbica. Eu pensava: ‘Deus me libertou das
drogas e do alcoolismo e não consegue me libertar da
homossexualidade?’”, revelou a pastora.
Lanna Holder também criticou as igrejas que pregam a teologia
tradicional, que aponta a relação entre pessoas do mesmo sexo como
pecado: “Na igreja, a homoafetividade é apresentada ou como uma
possessão demoníaca ou como uma doença. Eu tentava lidar com as duas
coisas. ‘Se é uma doença, Deus vai ter que curar e se eu estiver
possessa de algum espírito maligno, Deus vai ter que me libertar’.
Tentei por sete anos”, disse.
Para Lanna Holder, as demais igrejas não se tornam inclusivas por não
saberem como lidar com o assunto: “Cheguei à conclusão de que a
religião demoniza tudo o que ela não explica e não entende. A
homossexualidade é uma questão muito cheia de ramificações e
interpretações. A própria igreja não chega a um consenso sobre o que
pensa a respeito. Enquanto tem uma parte que garante que é uma possessão
demoníaca, outra parte tem certeza de que é uma doença. Por mais que no
fundo a igreja saiba que a homossexualidade não é abominável, ela se
recusa a corrigir um erro. É difícil voltar atrás e reconhecer que errou
depois de milênios condenando os homossexuais. É mais fácil manter como
está”, afimou.
Sua esposa, Rosania, afirma que depois de 20 anos nos Estados Unidos,
sendo altamente reconhecida no meio evangélico, passou a ser evitada
pelas pessoas próximas quando revelou o caso extraconjugal com a pastora
Lanna Holder. Na época, ambas eram casadas com pastores, e já tinham
filhos.
“Quando tudo aconteceu, tudo mudou. Eu entrava no banheiro para
passar um batom, e as mesmas pessoas que se diziam minhas amigas, saíam
imediatamente. Se tivéssemos nos apaixonado por outros homens e cometido
adultério do mesmo jeito, a reação teria sido completamente diferente.
Passaríamos por um período de disciplina e nossos ‘amigos’ continuariam
por perto. Como me apaixonei por uma mulher, subi ao púlpito e pedi
perdão por ser quem eu era, mas nunca mais consegui me encaixar na
igreja. Me usavam para pregar sobre pecado e aquilo acabou se tornando
um circo”, desabafou Rosania.
Segundo ela, a convivência com o ex-marido é pontual mas amistosa, e
seu filho, atualmente com 15 anos, também se relaciona bem com Lanna:
“De toda essa história, a coisa mais legal é a nossa relação com nossos
filhos. Somos uma família incrível, agimos de maneira muito natural. Meu
filho ama a Lanna e adora conversar com ela. Aliás, ele conta mais
coisas pra ela do que pra mim. Não tem como uma pessoa afirmar que uma
família constituída por gays não é coisa de Deus. Somos uma família
feliz que vive em harmonia”
Segundo Lanna, a Cidade de Refúgio atualmente tem 500 membros, e é
uma igreja que não se diferencia em nada das demais, exceto pela
aceitação à homossexualidade: “Se alguém entrar aqui sem saber que é uma
igreja inclusiva vai achar que é uma igreja evangélica como qualquer
outra. Sexo é só depois do casamento, temos dízimos e ofertas, louvamos a
palavra de Deus… A Bíblia do gay é a mesma do hetero, a única diferença
é que interpretamos diferente a questão da homossexualidade. Não somos
ativistas gays, mas acreditamos na inclusão”, discursou.
Sobre a polêmica mais atual em torno da homossexualidade, envolvendo o
pastor Marco Feliciano, Rosania Rocha afirmou: “A única coisa que temos
a dizer ao Feliciano é: ‘cresça’! Ele é uma pessoa narcisista e tudo o
que ele faz é para ganhar holofotes. Infelizmente ele está conseguindo
isso da pior maneira possível”.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+
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